A.A NO BRASIL

Corria o ano de 1945, um membro viajante norte-americano, de nome Bob Valentine, amigo de Bill W., de passagem pelo Rio de Janeiro, então capital nacional, conhece uma pessoa também americana (não está totalmente definido se era homem ou mulher), com o nome de Lynn Goodale. Após uma conversa com Bob Valentine, Lynn encontra a sobriedade.

A Fundação do Alcoólico era a responsável direta pela correspondência de Alcoólicos Anônimos com a sociedade e o elo entre a correspondência de seus membros. Portanto, Bob Valentine, de volta aos EUA, em visita à Fundação, passa-lhe o endereço de Lynn, como possível contato no Brasil.

Prontamente, a secretária da Fundação do Alcoólico escreve-lhe uma carta na qual solicita a confirmação do contato brasileiro, dizendo-se feliz por poder assinalar um ponto na cidade do Rio de Janeiro em seu mapa de contatos no exterior. Ao receber essa correspondência, Lynn responde afirmativamente sobre incluir-se como contato de A.A. no Rio de Janeiro e informa que sua estada no Brasil seria por pouco tempo. Solicita também algum material (memorandos, boletins etc.) e diz: "Há quatro meses evito o primeiro gole; fazendo algo, creio que manterei minha sobriedade (...) gostaria de ter alguma participação no crescimento de Alcoólicos Anônimos aqui no Brasil."

A carta de agosto de 1945, assinada por Margareth Burger, então secretária da Fundação do Alcoólico, não altera muito os acontecimentos mas marca o final da correspondência e Lynn Goodale sai de cena.

No ano seguinte, a Fundação do Alcoólico recebe a seguinte correspondência, vinda do Brasil:

"Rio de Janeiro, Brasil, 19 de junho de 1946.

Ao Secretário do. A.A, cosmopolitan Club e nova Iorque

Prezado Secretário:

Há coisa de um mês atrás o remetente desta esteve em seu Escritório e, antecipadamente prevendo sua mudança aqui para o Rio de Janeiro, solicitou algum contato com um membro de A.A. Fui gentilmente informado do nome de Lynn Goodale - Av. Almirante Barroso nº 91, como tal. Lamento informar que devido ao meu precário português, ou pelo endereço incompleto, fui incapaz de localizar essa pessoa e o auxílio das listas telefônicas locais também foi insuficiente.

Você teria a paciência suficiente (considerando que o correio aéreo regular consome cerca de 29 valiosos dias na ligação Nova Iorque/Rio de Janeiro) de fornecer-me instruções suficiente para contatar essa pessoa ou qualquer outro membro de A.A. no Rio?

Obrigado por seu interesse

Herbert L. Daugherty e Rua Gustavo Sampaio nº 86 - apto. 402

P.S. Você poderá incluir-me como contato para o futuro?"

Tratava-se de Herbert L., um publicitário norte-americano, sóbrio desde 1945, quando conheceu Alcoólicos Anônimos em Chicago, que veio ao Rio de Janeiro, juntamente com sua esposa Elizabeth, para cumprir um contrato de três anos como diretor de arte numa grande companhia internacional de publicidade.

A resposta da Fundação trouxe-lhe o nome de outras pessoas, Don Newton e Douglas Calders, as quais poderiam ajudá-lo; informou-lhe sobre a postagem de um "suprimento grátis de literatura" e trouxe-lhe um pedido de abordagem a um jovem de Recife.

Preocupado em manter sua sobriedade e decidido a começar um Grupo de A.A. no Rio, Herb (como era conhecido) decide escrever à Fundação, meses depois do último contato, dizendo não ter encontrado as pessoas indicadas. Nessa carta, datada de 2 de junho de 1947, Herb também informa que ele e sua esposa já haviam se adaptado bem no Brasil e solicita mais nomes e endereços de possíveis AAs no Rio.

"Lynn Goodale e Don Newton deixaram o Rio de Janeiro" - diz a correspondência vinda da Fundação, a qual também traz um pedido preocupado: "Não deixes passar outro ano sem correspondência" - e informa ao casal o novo endereço de Douglas C.

As cartas entre a Fundação do Alcoólico e Herb continuaram. Na próxima, Herb envia um cartão constando seu nome e endereço, cadastrando-se oficialmente como contato de A.A. no Brasil.

Quarenta e sete foi o ano dos acontecimentos que culminaram com o início efetivo de A.A. no Brasil. No mês de julho, Herb recebeu endereço de outro AA residente no Rio de Janeiro e alguns panfletos em espanhol e, em outubro, a Fundação expressa sua felicidade pelo início de um Grupo de A.A. no Brasil.

Contudo, há uma lacuna entre a carta de julho e a de outubro. Foi justamente na época que se inicia o primeiro Grupo.

PRIMEIRO GRUPO DE A.A. NO BRASIL

O NÚCLEO DE A.A. DO RIO DE JANEIRO - "A.A. Rio Nucleus"

5 de setembro, por que?

Pouco se tem documentado sobre a formação do primeiro Grupo de A.A. no Brasil. O que se pode afirmar é que esse Grupo inicialmente era formado por norte-americanos a serviço no Rio de Janeiro e que o idioma das reuniões, sediadas nas casas ou apartamentos dos companheiros, era o inglês. A maior dificuldade que Herb teve, aparentemente, foi a de não falar fluentemente o português. Ele queria transmitir a mensagem de recuperação a brasileiros ou a quem falasse fluentemente o nosso idioma, pois sabia que quando de sua volta aos Estados Unidos, provavelmente todo o seu trabalho seria perdido.

Alguns pontos, inclusive a data do início do "A.A. Rio Nucleus" ou Grupo A.A. do Rio de Janeiro, durante tempos foram envoltos em mistério e em controvérsias. Vamos agora fazer uma parada na dissertação e dar uma olhada num fato sobre a formação desse Grupo.

Pudemos observar que o livro de registros do Grupo A.A. do Rio de Janeiro, na data de 29/8/50 traz a seguinte anotação:

"Data - aniversário.

Na reunião de hoje deliberamos comemorar o 3º (terceiro) aniversário da Fundação do Grupo A.A. do Rio de Janeiro no dia 5 (cinco) de setembro próximo.

A referida data ficará, por tradição, como a data oficial da fundação do Grupo.

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1950.

Fernando, secretário."

Esse registro documentado é a mais clara evidência de que a data de início do primeiro Grupo de A.A. no Brasil foi 5 de setembro de 1947. Infelizmente o secretário não menciona detalhes como: onde foi realizada a reunião inaugural, quem foram os participantes dessa reunião etc.

O mais provável é que nessa data deu-se o encontro de Herb com o primeiro brasileiro que conseguiu manter-se sóbrio em A.A., o companheiro Antônio P., falecido em meados de 1951, quando tentava recuperar-se de um acidente de trabalho.

TRABALHO ÁRDUO COM OS OUTROS CRESCIMENTO DO GRUPO GRAÇAS À INTENSA DIVULGAÇÃO

Na carta de outubro, vinda da Fundação do Alcoólico, e que comentamos anteriormente, há uma sugestão para que o recém formado Grupo trabalhasse firme na divulgação: "... por todos os meios, prossigam com os planos de levar Alcoólicos Anônimos ao conhecimento público. Muitos Grupos têm achado que são de grande ajuda os artigos nos jornais e não há contra-indicações quanto a isso, contando com as Tradições de A.A. - anonimato, propósito, dinheiro etc. (...) Depois de estrondosa abertura à publicidade, um grande número de Grupos tem usado anúncios pequenos informando que estão funcionando e o endereço onde maiores informações poderão ser obtidas."

Baseando-se, talvez, nessa sugestão, foi que Herb encaminhou uma carta ao Jornal O Globo. O editor ficou muito entusiasmado e o artigo apareceu na primeira página da edição de 16 de outubro de 1949.

"Alcoolistas Anônimos - Uma Sociedade de Fins Meritórios" era o título do artigo que detalhava o funcionamento de A.A.: "Alcoólicos Anônimos é uma sociedade composta por pessoas que tendo sido bebedores inveterados conseguiram livrar-se do alcoolismo e trabalham com o intuito de se ajudarem mutuamente a se manterem sóbrios. Sendo ex-bêbados, não entramos em discussão com aqueles que bebem normalmente ou com os fabricantes de bebidas alcoólicas, nem somos contra essas pessoas. Não temos também, como Grupo, qualquer ligação ou filiação com determinada igreja ou organização missionária ou organização de temperança. Como ex-bêbados, estendemos a nossa simpatia e auxílio a qualquer pessoa de qualquer classe social e de qualquer religião, que tenha perdido o controle sobre a bebida e que, sinceramente, queira abandonar o vício." Apesar de falar em "vício", o artigo mostrava também o aspecto "doença". Mencionava algo sobre o anonimato e o Primeiro Passo e, por fim, solicitava aos interessados que escrevessem cartas à redação do jornal, endereçadas ao núcleo brasileiro de A.A.

O artigo repercutiu e Herb respondeu cerca de dez cartas de pessoas pedindo ajuda e o jornal solicitou outro artigo.

Depois, Herb e sua esposa - que parece ter sido a redatora da maioria das cartas - noticiaram o fato à secretária da Fundação do Alcoólico que, posteriormente, transmitiu as boas novas a Bill W. Nesta mesma correspondência Herb demonstra preocupação em registrar a Irmandade junto ao governo brasileiro e informa ter encontrado Douglas C., com quem já havia feito algumas reuniões.

A manifestação da Fundação, através de sua secretária, Margareth Burger, foi típica de A.A. Lendo a carta de novembro de 1947 pode-se sentir a emoção com que receberam a notícia do progresso brasileiro. Foi aí também a primeira referência sobre a tradução do Livro Grande e de outros folhetos para o português e a informação de que só havia tradução para o espanhol.

Quanto ao "registro" junto ao governo, a funcionária da Fundação disse: "Discuti com Bill W. o assunto do material apropriado para submeter à apreciação do governo brasileiro. Bill acha que vocês podiam explicar às pessoas daí que A.A. não é uma incorporação, mas é simplesmente uma organização sem fins lucrativos cujo propósito primordial é o de ajudar na recuperação do portador da doença do alcoolismo, se ele o desejar. Caso vocês nos dêem o nome para contato com o governo brasileiro, a Junta de Custódios de A.A. poderá enviar a Constituição da Fundação do Alcoólico, que foi fundada para agir como uma espécie de Comitê de Serviços Gerais para Alcoólicos Anônimos."

Aqui cabe uma pausa. Nesse trecho podemos notar o que Bill W. pensava quando dizia que ele e Dr. Bob eram o elo entre os Grupos e os Custódios da Fundação. No caso desse registro brasileiro, vemos como Alcoólicos Anônimos ainda carecia de uma estrutura e como Bill W. era o consultor direto da Fundação do Alcoólico.

Voltemos aos fatos. Só em abril próximo (1948) a Fundação recebeu a resposta do casal Herb e Libby, como era chamada Elizabeth. Isso, segundo Herb, devia-se ao "tempo e trabalho árduo". Nessa época havia várias boas-novas: "... contamos com quatro brasileiros. Somos seis, se incluirmos Doug C. e eu mesmo. Esses quatro brasileiros estão abstêmios há seis meses ou mais. Nosso mais novo recruta veio através de uma carta que havíamos escrito a um pastor daqui. Trata-se de um anglo-brasileiro que tem lido tudo que se relaciona com A.A. Traduziu os Doze Passos para o português, ajudou-nos a escrever um artigo para os jornais aqui do Rio de Janeiro e, no momento, está nos ajudando a traduzir um folheto de A.A."

Nessa época vários artigos já haviam sido publicados em jornais brasileiros e uma matéria foi veiculada num jornal direcionado à comunidade de língua inglesa no Brasil, o Brazil Herald. Eles também estavam com um material novo pronto para publicação, aguardando somente o número de uma caixa postal a ser usada como endereço para correspondência. Além de tudo isso, o recém formado Grupo já havia postado cerca de trinta cartas (sendo a metade em inglês) a médicos, igrejas e outras entidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Enfim, essa correspondência foi tão carregada de progressos que posteriormente a Fundação solicitou sua publicação na Grapevine.

Na correspondência seguinte, vinda da Sede, notou-se a preocupação com a tradução do folheto para o português. Assim, foi solicitado a Herb que encaminhasse um exemplar para análise, bem como cópia de alguns dos artigos publicados nos jornais brasileiros, para apreciação e arquivo.

Nesse mesmo mês, o livrete (ou folheto) de A.A. estava quase totalmente traduzido e a Associação Cristã de Moços (ACM) emprestou uma de suas Caixas Postais a Alcoólicos Anônimos, fato noticiado de pronto à Nova Iorque.

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